A Bahia é segundo estado do Brasil que mais mata em operações policiais, atrás somente do Rio de Janeiro e à frente inclusive de São Paulo, estado mais populoso do país. A informação é da pesquisa realizada pela Rede de Observatórios da Segurança do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), que traz dados preocupantes em relação à atuação da polícia baiana e o racismo estrutural na sociedade brasileira. Segundo o estudo, 32% das ações da polícia baiana resultam em mortos e feridos e metade das chacinas que aconteceram no último ano foi por ocorrência policial.
Em entrevista ao NES, o advogado e mestre em Estado, Governo e Políticas Públicas, Rodrigo Coelho falou sobre o assunto:
“As pesquisas confirmam o que estamos falando há tanto tempo: essa policia genocida, despreparada que acha que na base da bala resolve todos os problemas. Não se trata de defender bandido, mas não temos pena de morte oficialmente. A pena de morte aqui é imposta pelas ações perpetradas pela polícia na periferia.”
Racismo silenciado
O ponto central para a análises de todos os eventos coletados pela Rede foi o racismo, que é o foco do relatório. Os pesquisadores constataram um “impressionante silêncio” sobre o tema na mídia: apenas 50 dos 12.599 episódios analisados tiveram relação com o racismo e injúria racial, o que representa 0,4% da amostra da pesquisa. “A gente buscou capturar os eventos que são pouco monitorados pelas instituições que trabalham com segurança e com o que não é dito na cobertura da mídia”, explica o historiador Eduardo Ribeiro, que coordena o Observatório de Segurança da Bahia.
Em entrevista para o G1 a Luciene Santana, que é formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), faz mestrado no pós-afro e trabalha como pesquisadora na Iniciativa Negra, o alto número de casos registrados faz a organização questionar como é realizada a segurança pública na Bahia, como acontecem com as operações e qual o nível de índice de violência envolvido nas ações.
“O número de mortes é um pouco da ponta do iceberg do problema, que ele desmembra em diversas outras coisas”, disse a pesquisadora, que é responsável pelo monitoramento dos dados.
Segundo Luciene Santana, o desafio da Iniciativa Negra é descobrir como o racismo estaria visível nesses dados.