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MC Carol estréia no Rock In Rio e fala sobre história nacional, racismo e violência

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MC Carol, nome artístico de Carolina de Oliveira Lourenço, é famosa por marcar suas músicas por denúncias e críticas à sociedade brasileira. A cantora se destaca  cada vez mais no cenário musical ao fazer de sua voz um amplificador contra preconceitos e opressões de raça, classe, gênero e território. 

Cria do morro do Preventório, em Niterói, Mc Carol começou a carreira com poucas oportunidades e incentivo dos familiares. Hoje, alcança prestígio internacional e faz sua estréia no Rock In Rio. A artista participou do Heavy Baile ao lado de Tati Quebra Barraco. Em entrevista ao Voz das Comunidades, ela fala sobre responsabilidade social, importância do funk, exclusão social, racismo e história brasileira. 

VOZ DAS COMUNIDADES: O que significa para você estar no Palco Favela?

MC CAROL: Significa muito. Significa que valeu à pena todas as piadas que eu ouvi, todas  as garrafas d’água que jogaram em mim, todas as latinhas, todas as vaias. Toda a crítica da família porque todo muito foi contra. Eu fui criada para ser uma policial, cresci para ser uma policial. Com 14/15 anos eu começo a cantar funk putaria. Coisas que eu nem estava vivendo. Eu ia para baile de comunidade, aquela parada. Era a minha bisavó que me criava. Ela me chamou e disse: “Ó, a partir de hoje tu me esquece. Ou o funk ou eu”. Escolhi  o funk e fui sem olhar para trás. Depois casei e o marido fez a mesma pergunta. Escolhi o funk. Então, estar aqui no Rock In Rio é ver que valeu todo o meu sacrifício. Todos esses 9 anos valeram à pena. 

VOZ DAS COMUNIDADES: Como as músicas nascem?

MC CAROL: Eu sempre quero focar em uma história real. Na Mulher do Borogodó, por exemplo, eu estava muito envolvida com um cara, mas não deu certo. O cara queria casar, só que essa não é a minha vibe. Aí pensei em fazer uma música a partir de tudo que estava acontecendo. Primeiro passei a noite chorando, depois fui escrever. Com Propaganda Enganosa foi a mesma coisa. Não que 100% das minhas músicas eu tenha vivido, mas tento pegar alguns acontecimentos e transformar em música. 

VOZ DAS COMUNIDADES: Só neste ano, ocorrem algumas prisões de djs e mcs, como do Dj Rennan da Penha,  numa declarada criminalização do funk. Como você vê essas ações?

MC CAROL: Acho um absurdo à prisão do Rennan da Penha. Acho um absurdo prender artista. Parece que estamos na época da ditadura. Quem não é de comunidade, entende ele como um bandido. Já quem é de comunidade, não o vê dessa forma. A gente sabe como a polícia sobe no morro, atirando a esmo. Então, se você está no pé da comunidade e vê o que está acontecendo, é óbvio que você vai avisar para fulano não passar em determinado lugar, não colocar as crianças para escola. Quem não é de comunidade e não sabe o que acontece, criminaliza.  Mas é aquilo: o jovem é preto, talentoso, está fazendo dinheiro e vai para Dubai. Independente do que vem acontecendo, o cara está concorrendo ao Grammy e continua sendo tocado no Brasil inteiro. 

VOZ DAS COMUNIDADES: Em “Não foi Cabral”, você critica a história oficial do Brasil. O que te motivou a escrevê-la?

MC CAROL: Então, eu era considerada uma aluna muito inteligente, porém era vista como muito rebelde, com o pior comportamento da escola. Era muito contraditório. Numa entrevista eu comentei sobre isso e a pessoa falou que eu era muito tranquila e perguntou com quem eu mais brigava. Respondi que era com a professora de história porque eu não concordo com a história oficial do Brasil, de que chegaram tranquilo  e que foi tranquilo. Isso não aconteceu. Eu sempre batia nessa tecla na sala. A repórter disse que tinha muita gente que também acreditava no não descobrimento do Brasil e falou para eu escrever uma música. Fiquei encabulada e pensei que ninguém ia querer ouvir uma música dessa, mas depois mudei de ideia e escrevi. Hoje é a primeira música do show, eu amo.

VOZ DAS COMUNIDADES: Qual é a diferença de cantar no Rock In Rio e na favela, de público, de estrutura?

MC CAROL: Cara, é muita responsabilidade cantar no Rock In Rio. Nas comunidades que eu cantei o público era menor, não tinham câmeras. A diferença de estrutura é grande.  Cantar aqui é muita responsabilidade, tipo assim: eu estou trazendo muitas pessoas da comunidade que não puderam estar aqui. Então, eu estou representando todas essas pessoas. 

VOZ DAS COMUNIDADES: Há diferença da MC Carol no palco e da Carol na vida?

MC CAROL: Tem muita diferença, muita diferença. A Carolina é tímida, mais quietinha é quase não fala. A MC Carol já é outro bagulho, tá ligado? Já fala, já quebra tudo. Não está nem aí para nada. As pessoas confundem muito Isso, sabe? Às vezes vêm tirar foto comigo no camarim e chegam achando que sou como no palco. As pessoas se assustam um pouco porque acham que o artista é artista o tempo todo. E não. Na vida particular somos mais quietinhos, pelo menos eu sou. 

Voz das Comunidades
Voz das Comunidadeshttp://www.vozdascomunidades.com.br/
No ano de 2005, época em que a mídia tradicional nem se quer mencionava o que existe de bom nas favelas e os verdadeiros problemas sociais que os moradores enfrentam no dia-a-dia, foi quando um menino de 11 anos de idade, aluno de uma escola municipal, decidiu criar um jornal pra comunidade do Morro do Adeus, uma das 13 que formam o Conjunto de Favelas do Alemão, pra mostrar tudo o que acontecia na sua comunidade.

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